COMUNIDADES
Jongo de Barra do Piraí
HISTÓRIA
Sr. Dorvalino de Souza, fundador do grupo, conta que o jongo foi passado para ele através de seus pais, tios e padrinhos numa reunião de família na Fazenda Santa Maria na Ponte Alta, onde cantavam e marcavam o ritmo com dois taquaraçus (bambu), um grosso e um fino, batendo -os contra o chão, tirando o som dos tambores Caxambu e do Candongueiro. Surgiu então o grupo de jongo “Filhos de Angola”, nome dado pelo jongueiro Cosme Aurélio.
Atualmente, esse grupo se encontra num local denominado “Sombra do Abacateiro” onde acontece no mês de novembro o “Encontro da Raça” realizado por Laudeni de Souza, filho do fundador do grupo.
Os instrumentos são denominados caxambu, candongueiro, guaiá ou gongo (tipo de chocalho) e o mucoco (que é a vara que marca o ritmo batendo no tambor caxambu). Alguns tambores são feitos de barrica de vinho coberto na sua parte superior por couro de animal.
Há em Barra do Piraí três grupos distintos: o Caxambu do Tio Juca, o mais antigo de todos os grupos; o Caxambu da Tia Marina, tendo esse nome em homenagem a jongueira mais antiga do grupo, Senhora Marina, matriarca de 87 anos a quem todos devem muito respeito e o Jongo Filhos de Angola que por falta do seu fundador Dorvalino de Souza foi passado aos cuidados do Sergio Belarmino.
Os 3 grupos se juntaram e formaram hoje uma única família jongueira.
A revitalização do grupo Filhos de Angola foi realizada a partir de 1993 por Elza Maria Paixão Menezes, professora de Ciências, Biologia e Animadora Cultural do CIEP 287 Angelina Teixeira Netto Sym, com o apoio do APN Paulo Roberto e fundadores dos grupos de Jongo de Barra do Piraí.
* Texto Elza Maria Paixão Menezes
CALENDÁRIOS DE FESTAS
03 de maio – Aniversário da Tia Marina – acontece na casa da Tia Marina ou na rua. Às vezes acontece em frente à igreja no bairro da Boa Sorte ou na sede do Grêmio Recreativo Boa Sorte. Durante a festa há rodas de jongo.
13 de maio – Dia dos pretos-velhos – evento que se inicia com uma palestra sobre a consciência negra. Em seguida, a comunidade apresenta diversas manifestações de cultura negra como capoeira, maculelê e jongo.
13 de junho – Dia de Santo Antônio e aniversário de dona Madalena, irmã da Tia Marina – Festa popular na praça do bairro de Santo Antônio com barraquinhas, forró e tipos variados de dança integrando moradores. Realizam-se também rodas de jongo.
23 e 24 de junho – Festa de São João – a festa acontece na casa do jongueiro Ivo Maria, sobrinho da Tia Marina. De dia os jongueiros juntam a lenha para fazer a fogueira de São João. Antes de começar o jongo eles rezam e fazem oferendas na fogueira. Em seguida, homenageiam os tambores e iniciam a roda de jongo. À meia-noite do dia 24 de junho, dia de São João fazem a roda final.
Agosto – Mês do Folclore – o grupo de jongo se apresenta em escolas e praças de várias localidades.
06 de outubro – Aniversário de Seu Juca – festa de aniversário na qual também se realizam rodas de jongo e pagode. Ultimamente acontece na casa da filha Iara na Califórnia da Barra ou na casa da filha Zezé no Bairro Novo México.
Semana de 20 de novembro – Semana da Consciência Negra – evento que acontece na Boca do Mato com apresentação de grupos de samba e rodas de jongo e um debate sobre a situação do negro brasileiro. Nessa semana ocorre também um evento especial de comemoração do Dia de Zumbi, onde é realizada uma missa afro com cantos e danças afros e apresentações de capoeira, maculelê e jongo.
De 24 de dezembro a 6 de janeiro – Ciclo natalino – Folia de Reis – do Natal ao Dia dos Santos Reis muitos grupos populares de Folia de Reis saem em peregrinação pelas casas encenando a viagem dos Reis Magos à manjedoura no nascimento de Jesus. Atualmente as folias estão saindo também no mês de agosto.
informações
Jongo de Barra do Piraí
Travessa Pedro Lara, n. 10, loja 18, Barra do Piraí/RJ
Como chegar:
Localiza-se a 135 km do Rio de Janeiro e 362,2 km de São Paulo. O acesso é feito pela rodovia RJ-SP (BR-116 – Nova Dutra) até a saída para a RJ-145 (sentido Piraí, Barra do Piraí, Valença).
Contato:
Mestre Cosme dos Santos – (24) 99243.0620
BIOGRAFIA
MESTRE COSME DOS SANTOS
[ALTERAR] Mestre Cosme sofreu muito quando menina. Sua mãe Brandina foi para Nova Iguaçu com o fim das lavouras de café e a falta de serviço aqui na região. Alguns parentes de Vó Brandina tinham ido colher laranja na Baixada Fluminense deixando duas meninas aos cuidados do seu irmão mais velho João Seabra, que era casado. Tanto ele quanto sua mulher eram muitos rigorosos, cobravam muito de minha mãe e sua irmã Francelina, que sempre estava em sua companhia.

[ALTERAR] Naquele tempo os mais velhos eram muito rigorosos com as crianças e gostavam de empregar alguns castigos. Tio João plantava muito arroz e tinha que tomar conta dos passarinhos para que eles não arrancassem a plantação. Só que para as crianças cumprirem essa tarefa custava muito caro, pois elas tinham que se levantar bem antes do dia amanhecer.
Naquele tempo a roupa usada pelo negro era de saco, que era cortado no local dos braços e da cabeça. Era uma peça do vestuário tanto dos meninos quanto das meninas. Eram dois sacos, um para usar durante a semana e outro para vestir no dia de domingo. Só tínhamos duas mudas de roupa cada. Nos dias de chuva, as roupas eram postas na boca do fogão de lenha para secar.
Com chuva ou sol, Mãe Zeferina estava sempre na plantação tomando conta dos passarinhos, que insistiam em arrancar arroz. Se o passarinho mexesse em alguma coisa aquilo lhe custava uma surra.
O café da manhã era um pedaço de cana que Mãe Zeferina ia chupando em direção ao arrozal. Almoço só pela tarde quando a esposa do seu irmão João lembrava que tinham duas crianças com fome. Até que um dia a dona da fazenda descobriu que as duas meninas estavam sendo mal tratadas, e logo mandou chamar seu João e exigiu que ele entregasse as meninas. Por motivo que eu não sei, só minha Mãe Zeferina acabou ficando na Fazenda São José, de propriedade da família Ferraz.
Lá, veio a gostar do meu pai Sebastião, mas a dona não deu autorização para o casamento. Como Vó Brandina ainda estava morando longe e o Tio João já havia se mudado da região, Mãe Zeferina obteve autorização para o casório com o Tio Manoel Seabra.
A patroa não queria aceitar o casamento de jeito nenhum, pois minha mãe só tinha um pouquinho mais de 15 anos e o Tio Manoel também era menor de idade, mesmo assim casaram-se.
Se não fosse este ato de bravura do Tio Manoel Seabra eu não estaria aqui contando essa historia para vocês.
Mãe Zeferina, casada e mãe de 12 filhos lindos viveu com meu pai Sebastião por longos e felizes anos. Meu avô Sebastião, gostava de ser tratado e era conhecido como Zequinha.
Apesar de muita coisa ruim que acontecia, a gente era muito feliz.
Na infância Mãe Zeferina trocava sua hora de folga por algumas horas de aula por semana para aprender a ler. Quando cresceu, tornou-se a primeira professora na comunidade. Aqueles anos em que trabalhou com a dona da fazenda foram o bastante para ela poder aplicar todo aquele aprendizado na comunidade. Colocava alguns bancos na sala de minha casa e lá ensinava boa parte de nós. Assim todos sabem assinar seu próprio nome e ler algumas coisas.